Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Não. Mil vezes não.

E o padre pergunta-me, agora mesmo, se quero amar-te na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, e eu só sei dizer que não. Não. Orgulhosamente não como há vinte anos não. Continuo a não te querer amar na saúde, a não te querer amar na doença. Não. Mil vezes não. Quero amar-te sem condições. Quero amar-te: eis tudo o que num casamento deveria ser dito.
O problema de Deus é nunca ter amado assim.
E o problema dos casamentos é ter palavras a mais. 
Pedro Chagas Freitas, "Prometo Falhar"

Casais sem filhos e felizes, são cada vez mais

 revista Sábado de há duas semanas fez um artigo bastante interessante acerca deste novo "fenómeno" (que não acredito que seja uma tendência ou moda, mas sim um reflexo dos tempos e das mentalidades) dos casais que não querem ter filhos. Identificação total da minha parte, como seria de esperar! 

   Escreve-se assim a dada altura: Não havendo Euromilhões, preferem manter a vida que têm. Imprópria para crianças. Rita está no ginásio às 7h, Ricardo começa a correr às 7h30 – todos os dias; aos fins-de-semana tanto podem acordar às 12h para tomar o pequeno-almoço e almoçar às 16h, como nem sequer almoçar, ou fazer seis quilómetros a pé de Campo de Ourique ao Restelo – para comer os famosos croissants do Careca. Nunca tiram férias nem viajam em Agosto, ou na Páscoa (porque é mais caro), mas viajam todos os anos; não têm almoços de domingo ou dias fixos para ver a família, e no Verão, “à hora do cancro”, estão quase sempre na praia (...)Tal como os passeios a pé que fazem juntos, depois do jantar, ou as saídas de bicicleta quando lhes apetece, ao ritmo que querem. Comentário mais comum dos amigos com filhos (de quase todos): “Vocês não têm olheiras!” Tradução: não há miúdos a acordá-los às 7h da manhã. 

   Parece que ainda somos poucos, os casais que afirmar não quererem ter filhos (cerca de 8%), mas na última década o número de casais sem filhos aumentou significativamente. Maioritariamente parecem ser as mulheres quem ditam a tendência e as regras e somos cada vez mais as que dizemos "filhos não", sendo um fenómeno significativamente superior em mulheres instruídas e ao que parece mais inteligentes. Em termos de relacionamento conjugal, as coisas parecem correr bem para os casais que vivem um para o outro.  Depois de ouvirem cinco mil pessoas, investigadores da britânica Open University concluíram que os casais sem filhos se sentem mais valorizados, dedicam mais tempo a manter a relação, conversam de forma mais aberta, apoiam mais o parceiro e dizem mais vezes “amo-te”. E no caso dos homens, a probabilidade de se sentirem insatisfeitos com a vida sexual é duas vezes menor. Os níveis de stress também são mais baixos, diz Catarina Mexia. Por várias razões: “Têm mais tempo para eles e para o casal, responsabilidades financeiras mais baixas e uma gestão mais previsível das poupanças.”

  Já sei que muitos vão continuar a apontar o dedo do egoísmo a todos aqueles que, como eu, gritam bem alto que não querem ter filhos. É certo que não asseguramos a propagação e continuação da espécie, como há dias um colega de trabalho me dizia, mas eu acredito que a nossa passagem por esta vida e a nossa essência enquanto humanos é muito mais do que gerar uma nova vida e dar continuidade à espécie. Para mim, a minha vida tem de ser vivida da forma que me faz feliz, pois só assim é que esta passagem vale a pena. E estas coisas da felicidade são sempre muito subjectivas e completamente pessoais e intransmissíveis. É por isso que eu acredito que é possível ser-se muito feliz sem filhos, desde que seja isso que o nosso coração dite. 

Tudo o que não deve ser um casamento

   Se, quando surge um convite para um casamento, a expressão que se ouve é "oh não! Que seca!", alguma coisa está muito mal. É suposto este ser um dia de festa para os noivos junto daqueles que lhes são mais queridos e que, por isso, escolheram para estar ao seu lado neste dia. Mas a maior parte das vezes não é isso que acontece. O que acontece são dias estupidamente longos, cansativos, saturantes, entediantes muitas vezes e quase sempre acompanhados por características metereológicas que não ajudam nada.
   Depois de mais um casamento que, para mim, representou tudo aquilo que um casamento não deve ser, começo a fazer uma lista de tudo o que não deveria mesmo acontecer neste dia que é suposto ser de magia e não de magia negra. Ora então:
   - Tremenda falta de respeito pelos convidados essa mania das noivas chegarem atrasadas à cerimónia...não, não é chique e fica muito mal, como qualquer atraso;
   - Muita atenção escolha do padre. Se calhar vale a pena ir ouvi-lo numas missinhas antes e se ele faz muito propaganda política ou às festas da freguesia se calhar é sinal de que a cerimónia vai ser para lá de entediante;
   - Não marcar casamentos para hora de almoço. Inevitavelmente os convidados acabarão por passar horas de pleno jejum, à espera de um almoço que só chegará pela hora do jantar;
   - Não ter a infeliz ideia de servir as entradas "cá fora" quando os termómetros marcam para cima de 30 graus...é mau para os convidados e é muito mau para a qualidade da comida;
   - Nunca, mas nunca, fazer a tradicional sessão de fotos com todos os convidados no formato individual, familiar, agora os primos, agora os tios, agora os amigos, o cão e o gato antes de deixar a barriga dos convidados minimamente composta, especialmente quando ao final da tarde continuam apenas com o pequeno almoço;
   - Ter em atenção a escolha da música de entrada na sala de refeições (sim, porque isto agora não há passo de noivos sem música como pano de fundo). Escolhas como "who let the dogs out" e outras letras que dizem que "every tear drop is a waterfall" deixam-nos a pensar o que será isso do casamento;
   - Variar um bocadinho nas ementas...já começa a ser da praxe o binómio "casamento-bacalhau";
   - Ter em atenção o bem-estar e a saúde dos convidados e não os brindar às 20h com uma ementa que diz entradas - sopa - prato de peixe - coisinha para desenjoar - prato de carne - sobremesas - bolo da noiva - mesa de bolos e frutas - para mais tarde francesinhas e pregos e moelas e bifas e tudo o que mais se possam lembrar para comer lá paras 3h da manhã que é a melhor hora para se comer estas refeições levezinhas - e ainda cházinho e bolachas (para o pequeno almoço, pergunto eu?)...eu sei que nos deram horas e horas de jejum mas será humanamente possível consumir-se tudo isso em tempo útil?
   -  Aqueles videos com fotografias do casal em pequeninos, onde não falta a foto do banho, e depois as fots dos dois juntos...mixed feelings...achava-lhes uma certa piada, até ver toda a gente fazê-lo...agora acho que é preciso fazê-los com muita imaginação e originalidade e, definitivamente, sem fotos de banhos;
   - Fogo de artificío...eh pá, não. Completo cliché!
   - Festas que 12h depois da hora marcada no convite para o início ainda não terminaram...desumano! Nem pensem nisso. Não há diversão que dure tanto tempo.
 
   Resumindo: há que fugir dos clichés e há que tornam o dia memorável pelos melhores motivos e não pela valente seca que os convidados foram obrigados a aguentar. Fazer um casamento bonito é cada vez mais difícil, fazê-lo simples e bonito parece que é ainda mais. Eu sou apologista do curto, barato e sem muitos arranjos. Se vemos algum convidado a bufar ou a abanar-se com um guardanapo alguma coisa está a correr mal..
   Há que ser capaz de fazer deste dia um dia realmente mágico e especial e, para isso, não são precisas festas de 24h, comidas que davam para alimentar uma IPSS durante uma semana e surpresas prometedoras que não são mais do que coisas que vemos em tooooodos os casamentos. É bem mais simples, mais rápido, mais económico e, acima de tudo, bem mais feliz!
  

«...não é o um, mas o dois...»

 

 

   «Vou explicar-lhe uma coisa, Diga, Começarei por lhe perguntar se sabe quantas são as pessoas que existem num casamento, Duas, o homem e a mulher, Não senhor, no casamento existem três pessoas, há a mulher, há o homem, e há o que chamo a terceira pessoa, a mais importante, a pessoa que é constituída pelo homem e a mulher juntos, Nunca tinha pensado nisso, Se um dos dois comete adultério, por exemplo, o mais ofendido, o que recebe o golpe mais fundo, por muito incrível que isto lhe pareça, não é o outro, mas esse outro que é o casal, não é o um, mas o dois, E pode-se viver realmente com esse um feito de dois, a mim já me custa viver comigo mesmo, O mais comum no casamento é ver-se o homem ou a mulher, ou ambos, cada um por seu lado, a querer destruir esse terceiro que eles são, esse que resiste, esse que quer sobreviver seja como for, É uma aritmética demasiado complicada para mim, Case-se, arranje uma mulher, e depois me dirá (...)»

 

JSaramago, "Todos os nomes"

Vem aí sarilho

 

 

«Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam».

  

 

 

   E o Excelentíssimo Sr. Cardeal meteu-se também num belo sarilho com esta pouco feliz escolha de palavras. E à primeira vista, duas observações parecem-me pertinentes: a) não admira que a Igreja Católica tenha cada vez menos fiéis seguidores (passa a redundância) e b) o Sr. Cardeal não faz a mais pequena ideia do que é o amor e do que podemos e não podemos fazer quando ele entra na nossa vida.

No topo da lista

Mais uma vez o nosso país aparece no topo de uma lista...o motivo desta vez é...o divórcio.

 

   Parece que nós, um pedacinho de terra à beira-mar plantado somos o "best of the best" no que toca a fim de casamentos. Surpreendida? Nem por isso...

   Entre muitas outras coisas, nós, portugueses, somos um povo de ilusões, de 1001 sonhos, de aventuras e decisões tomadas em cima do joelho (a fazer jus ao bom lema de deixar tudo "prá última"). A decisão de casar, tal como muitas outras, é muitas das vezes precipitada. Com a rapidez de um relâmpago passa-se da fase do deslumbramento, para a fase da atracção, do enamoramento e daí directamente para o compromisso para toda a vida, que afinal deixou de ser para toda a vida. A juntar a isto temos o egoísmo, o individualismo exagerado, a ambição desmedida de mais e melhor, a falta de tempo, de disponibilidade para o outro, o pouco espírito de sacrificio. E está tudo reunido para o final (pouco) perfeito - o divórcio.

   Decisão tomada, segue-se uma longa maratona judicial que muitas vezes destrói mais do que a própria separação. Há uma vida para dividir por dois. Há a casa, o carro, a mobília, os LCD e os sistemas de som, as prendas de casamento, o computador, os livros, os filmes, o dinheiro...e os filhos...que acabam por ser as maiores vítimas de todo o processo.

   As decisões de uma vida nem sempre são para toda a vida. Preze-se a liberdade de cada um e a vontade de duas pessoas, sem nunca esquecer o respeito por todas as outras.

   Os sentimentos, esses sim, são eternos. Os bons e os maus...E os sentimentos vivem de recordações...boas e más...de uma vida que é traçada por cada passo que damos.