O postal
Quando se vai jantar a casa do namorado há sempre tempo e espaço para arrumações. A ideia era, entre outras, juntar tudo o que é cartinha, postal e afins que eu lhe dei numa caixinha. Bonita ideia. Ainda serviu para recordar as primeiras palavras escritas que trocamos, as primeiras brincadeiras...Entre um postal e uma carta, um envelope vermelho desconhecido. "Hum, já não me lembrava deste". Um postal de parabéns a dizer "Nada é impossível", sem nome, sem data, com meia dúzia de palavras, pestinha incluída. Não lembrava, nem poderia lembrar. Todo o meu lado negro foi activado. "Isto não é meu. Quem te deu isto?". A resposta: "Sei lá. Deixa ver...Ah. Podes deitar isso fora.". Aquele meu olhar carregado de pontos de interrogação tenebrosos. "Quem te deu?". "Era daquela...da outra...". Ora é um risco que se corre ao fazer arrumações nas gavetas dos outros.
Mas que raio estava um postal "da outra" a fazer no meio dos meus postais??? Não bastavam as santas chuteiras vermelhas que nunca foram usadas, o telefonema a oferecer emprego, também havia um postal?
Amuei, pois claro que amuei. Fico chateada, pois claro que fico chateada. Como duas grandes fatias de molotofe, pois claro que como. O postalinho já era. As santas chuteiras que se preparem porque eu já sei qual é a caixa delas.
E agora vou dormir para não comer mais molotofe.