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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Doentio é não viver

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Ben Stiller já nos fez rir muito, já foi engraçado, já foi rídiculo, já foi palerma. Hoje Ben Stiller cresceu e percebeu que a vida não é so sorrisos. Em "Brad`s Status" Ben Stiller até poderia estar numa espécie de "crise de meia idade" ou a entrar num quadro depressivo... mas não. Neste filme, Ben Stiller está simplesmente a ser (um ser) humano.

Acho que todos nós, a dada altura da nossa vida, ou em várias alturas da nossa vida, nos questionamos sobre o que andamos aqui a fazer e se as escolhemos que fizemos até à data foram realmente as melhores. Parece-me legítimo pararmos para pensar e questionar se é este o nosso caminho ou onde estariamos agora se tivessemos optado por aquilo em vez disto. Ben Stiller está, neste filme, insatisfeito. Ou pensa que está. Ou questiona se, afinal, está ou não satisfeito com o que tem e o que é. Ben Stiller sente-se em eterna competição com os seus amigos de infância no concurso do "quem se deu melhor nesta vida", mas na verdade, Ben Stiller está em competição, constante e permanente (e eterna!), consigo próprio, com os seus sonhos, com os seus objetivos, com aquilo que idealizou para si e para a sua vida, o que muitas vezes difere bastante da realidade.

Ben Stiller é neste filme uma personagem sem o ser, porque todos nós, seres humanos, somos aquele Ben Stiller do filme. Todos nós, eternos insatisfeitos, vivemos com o peso das nossas escolhas; todos nós nos questionamos, constantemente, o que é que poderiamos ter feito diferente, onde é que poderiamos estar que não aqui e, provavelmente o mais assustador, todos nós tentamos visualizar o nosso futuro, sem nunca sabermos realmente o que nos espera ao virar da esquina.

"De tudo o que fizeste, o que tornou a tua vida melhor?".

Viver com este ponto de interrogação na nossa vida não é doentio. Fazer esta pergunta diariamente não é sinal de episódio depressivo. Pensar sobre a vida não é maníaco. Pensar no que é e no que poderia ter sido também não. Doentio é não viver. E para se viver vida com vida há que questioná-la; há que competir com o que somos e com o que gostariamos de ser; há que estar insatisfeito e querer mais; há que chorar pelo que perdemos; há que invejar as conquistas dos outros e alimentar a nossa motivação; há que sonhar com o futuro; há que temer a incerteza; mas acima de tudo, há que sentir que estamos vivos, que estamos cá, e que não estamos sozinhos.  

Óscares 2018

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  Quem gosta de cinema terá certamente este hábito de chegar à noite da entrega dos prémios com os filmes todos vistos. Ora eu não sou excepção. Não sendo nenhuma especialista em cinema, todos os anos dedico umas boas horas a limpar todos os filmes nomeados, pelo menos nas principais categorias, para poder perceber, primeiro as nomeações e depois os prémios. 

   Claro que também sou daquelas que não consegue deixar de fazer previsões e emitir opiniões e, por isso, este ano já formei as minhas opiniões, embora sem grandes convicções no que ao melhor filme diz respeito. 

  • Darkest Hour, para mim não é um grande filme, mas é um brutal e excelente desempenho, que deverá garantir pela certa um óscar de melhor ator. De resto é um filme histórico bom, muito semelhante a um também recente chamado Churchill que vi há pouco tempo, uma grande produção, belas imagens, mas isso não pode ser suficiente para que se considere o melhor filme do ano. 
  • Lady Bird, aqui a coisa é simples: não lhe percebo a nomeação para melhor filme. É um típico filme americano da típica jovem americana com a típica juventude americana. Nada de novo. Nada de diferente. A não ser o cabelho vermelho de Saoirse Ronan.
  • The Shape of Water, provavelmente o filme sensação deste ano! Não posso dizer que adorei o filme, até porque não é de todo um estilo que me preencha as entranhas, mas reconheço-lhe o génio criativo, a originalidade do argumento, e marca sem dúvida pela diferença. É uma bonita história de amor do fantástico, uma espécie de Bela e o Monstro dos século XXI e isso merece destaque. É diferente e quase sempre o que é diferente é bom. Acho que, senhoras e senhores, este vai ouvir o seu nome depois do clássico "and the oscar goes to...). 
  • Call me by your name, mais uma bonita história de amor, num filme cheio de paisagens bonitas, diálogos bonitos, cenários bonitos, banda sonora bonita, momentos bonitos...sei que há muito gente a torcer por ele, mas eu não sou uma dessas pessoas. É bom, é inegável, mas não me cortou a respiração. 
  • Get Out, curto e direto: que raio de nomeação foi esta? 
  • I, Tonya, gostei. Eu gostei. É um filme biográfico, por isso esqueçam lá a originalidade do argumento e a construção da história e patati patata. Margot Robbie é todo o filme e o filme é o desempenho de Margot Robbie do princípio ao fim. Por isso, aqui deverá haver óscar de melhor atriz! Quer dizer, isto seria certo até vermos o filme seguinte...
  • Three  Billboards outside Ebbing, Missouri, um bom argumento, um bom filme, mas apesar de tudo nada de muito novo e original. A história da mãe revoltada pela morte de uma filha não é novidade para nós. O que é novidade para nós e nos sabe realmente bem neste filme é aquele mãe ser uma Frances McDormand que está brutal no seu sofrimento e revolta e que fará tremer as escolhas para o óscar de melhor atriz. 
  • Dunkirk, filme de guerra. Um bom filme de guerra. Inegável. Mas nada mais que isso, que já é muito, mas que não é para estatuetas. 
  • Phantom Thread, uma história de amor doentia, talvez seja a melhor forma de definir este argumento. Eu gostei do filme. E gostei ainda mais do Daniel Day-Lewis, que não só está fantástico no seu papel (e novidades? um dos melhores entre os melhores!), como está com uma imagem bem agradável ao aolho, apesar da sua idade e de não ser propriamente a criatura mais bonita à face da terra. 
  • Coco, está ali só porque sim, só porque merece, só porque é um vencedor nato, só porque a Pixar sabe SEMPRE como fazer e o que fazer para nos pôr a sonhar, para nos fazer rir e para nos apertar o coração, tudo num só filme. Uma delícia! 

Posto isto, e com uma semana de antecedência, fazemos as nossas apostas? 

Divertida-Mente

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  Se há livros que fazem parte do Plano Nacional de Leitura, há filmes que deviam fazer parte de alguma espécie de Plano Nacional de Cinema. Este é sem dúvida um deles! Quando pensamos que a Disney/Pixar já teve todas as ideias fantásticas do mundo para filmes de animação, eis que surge este Divertida-mente, Inside_Out no título original. 

   Basicamente o que este filme oferece a miúdos e graúdos, especialmente graúdos da "área das emoções", é uma excelente lição sobre as emoções, sobre a forma como o nosso cérebro gere essas emoções e a importância fundamental de cada uma delas na estruturação das nossas memórias, do nosso pensamento e da nossa personalidade. De forma fantasiada e bem colorida e animada, está lá tudo, com as nossas memórias transformadas em pequenas esferas coloridas de acordo com a emoção que as gerou! As emoções/personagens principais são cinco: a alegria e a tristeza assumem os papéis principais, às quais se juntam a raiva, o medo e o nojo. A partir daqui é uma bela lição ligeira mas real de como funciona o melhor que nós temos, que é o nosso cérebro. A forma como ada uma delas gera comportamentos em momentos específicos, a transformação das memórias de curto-prazo em memórias de longo-prazo durante o sono, a formação de memórias-base que vão contribuir para a construção da personalidade individual de acordo com as vivências (fantástica a ideia de materializarem cada característica de personalidade que se vai formando em pequenas ilhas que se podem construir ou destruir de acordo com a experiência), o comboio do pensamento que transporta as nossas memórias, uma equipa que análise as memórias de longo prazo e que aspira aquelas que já não nos serão úteis atirando-as para o poço do esquecimento, a terra da imaginação, do pensamento abstracto, do raciocínio lógico e até uma lixeira, o nosso inconsciente, onde está tudo aquilo que queremos esquecer ou esquecemos mesmo. 

   Este é daqueles filmes que vale mesmo a pena ver. Não será tão recomendado para crianças pequenas, pois não compreenderão a verdadeira essência e objectivo deste filme, mas para os mais cresciditos, para adolescentes e até para nós adultos é realmente uma preciosidade! E aquela tristeza, que tanto tememos mas que tem um papel tão importante na história, é só o bonequino mais fofo dos últimos tempos! 

   Vejam, por favor! Para nos conhecermos melhor. 

Sim, eu (também) vi

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   Começo já: não gostei. Mas voltando atrás, a minha curiosidade pelo filme era a mesma que tive pelos livros: zero! Não os li, não senti a miníma vontade de os ler, passaram-me completamente ao lado e nem sequer sabia (sei) muito bem do que se tratava, apesar de na altura se falar da dita literatura erótica para mulheres. Ora bem, depois de ter visto o filme e acreditando que o filme é sempre pior que os livros, não percebo qual é a parte erótica da coisa, já que o que mais se salienta ali é o lado dominador e sadomasoquista do Mr. Grey (a propósito, não se arranjava um Grey melhorzinho na enorme e maravilhosa indústria cinematográfica?) e a total submissão da mulher, que ora parece gostar, ora não gosta, ora não sabe o que quer.

   Não gostei. Enquanto mulher, chegou a incomodar-me. Não conheço o resto da história, não conheço os motivos para estes comportamentos de Mr. Grey, vou tendo as minhas desconfianças clínicas, mas ainda assim aqueles actos não deixam de menosprezar e humilhar as mulheres. Quanto ao resto, se conseguirmos encontrar nesta história uma suposta veia romântica, ela está bastante infantilizada. Acredito que a juventude corra para os cinemas e devore estes livros, afinal quem não sonha com um jovem milionário que nos leva a passear de helicópetro assim como quem vai lá à Foz comer um gelado? Mas não há conteúdo nesta história e se alguma lição podemos tirar daqui é que o ser humano tem comportamentos que realmente nunca seremos capazes de compreender. 

And my oscar goes to...

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Fazendo já aqui a minha noite de óscares, porque o sono já começa a pesar muito, melhor actor e melhor actriz atribuidos indiscutivelmente e sem qualquer concorrência possível, especialmente no caso do melhor actor.

Quanto ao melhor filme, tenho as minhas dúvidas, pois nenhum deles me arrebatou o coração e nenhum deles me pareceu nenhuma pérola do cinema que mereça ser visto e revisto (mas isto sou eu a falar, que detestei Birdman e os Jogos de Imitação!). Se me perguntarei qual gostei mais de ver dos vários candidatos, coloco quatro na lista: A Teoria de Tudo (um grande filme, sim, mas que é uma biografia cinematográfica e uma adaptação de um livro, por isso nunca um candidato real a um óscar de melhor filme), Sniper Americano (humanizou-se a guerra mais uma vez, deu-se-lhe uma cara bonita, Bradley Cooper está muito bem mas excessivamente inchado, mas é mais um que não agarra um prémio, porque filmes de guerra há e haverá sempre aos montes), Selma (eu gostei, vi bons desempenhos, é uma luta real, é mais uma vergonha do ser humano, é mais uma história de um grande homem, é sobre um tema que me é muito querido, mas não tem força para vencer) e Boyhood. Este último parece-me ser o candidato mais provável ao óscar de melhor filme pela originalidade e pela naturalidade quase em modo documentário sobre a vida real. 

Sejam quais forem as decisões, estes serão os meus vencedores. 

"O meu nome é Alice", agora o filme

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O problema de lermos um livro antes de vermos um filme é que já sabemos tudo o que vai acontecer e acabamos sempre a pensar "então isto e aquilo que vem no livro, não aparece aqui?". Neste caso não foi excepção; muitos momentos e pormenores desapareceram no filme e algumas coisas foram mesmo alteradas. Vale-nos a Julianne Moore, que está enorme, magnífica, estupenda no seu papel de Alice (and the oscar goes to...) e a temática do filme, que para mim me é extremamente "querida", não só porque é a minha realidade profissional, mas também porque é uma realidade que me assusta tremendamente e este filme consegue assustar-nos, consegue abrir-nos os olhos, consegue mostrar-nos o sofrimento impossível e impensável que é o de saber que aos poucos vamos deixar de ser nós e perder precisamente tudo aquilo que somos. 

Uma questão que me tem assaltado nos últimos tempos...

   Serei eu a única criatura à face da terra que não está minimamente interessada, curiosa ou whatever nesse filme das sombras do Grey, que diz que vai estrear por estes dias? Diz que há não sei quantos criaturos "em lista de espera" para poderem FINALMENTE ver o TÃO AGUARDADO Grey e eu quase me pergunto "mas afinal quem é esse tipo?", mas lembro-me que é o mesmo daqueles livros tão cobiçados quanto o filme que todo o mundo leu menos eu (e todos aqueles que realmente gostam de literatura).

   Bem vistas as coisas, podemos dizer que o Grey é o equivalente à Violeta, mas para os pais das crianças que gostam da piquena, certo? Sendo que, se os papás tinham de acompanhar os seus pequenotes aos concertos da dita, neste caso, dizem os entendidos, que não convém nada que os mais novos acompanhem os pais na visualização desse tão aguardado filme, certo?

   E acho que deste forma as sombras do Grey tiveram todo o tempo de antena possível na minha vidinha. 

BoyHood

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Boyhood é a vida. Naturalmente a vida. Apenas e só a vida. 

Sem grandes momentos, sem cortar a respiração, sem nos fazer querer rever o filme daqui a uns anos. Cheio de normalidade. Cheio de vida, portanto. 

Não parece cinema. 

Parece vida. 

Excelente a oportunidade de, em cinema, onde tudo é ficcionado, podermos assistir ao crescimento e envelhecimento real de cada uma das personagens, especialmente nas personagens mais jovens. 

Se eu ficar...

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E se estivessemos à porta da morte e pudessemos sair do nosso corpo, observar e conhecer tudo o que se passa à nossa volta, e escolher lutar pela vida, apesar de termos perdido quase tudo o que dá sentido à nossa vida ou partir?

As experiências de quase-morte estão mais que faladas, a possibilidade de sairmos do nosso corpo e nos vermos de fora tem sido mais que usada em cinema e livros, mas este filme não cai em banalidades, não torna ridícula esta possibilidade e leva-nos a pensar que, de facto, há pessoas que lutam pela vida com uma força sobrehumana, enquanto outras facilmente desistem de continuar a viver. O que fará a diferença entre elas? Não existirá realmente um qualquer nível de consciência que nos permita decidir em função do que temos do lado de cá?

Gostei. 

Thanks for sharing

 

   Tratando-se de um filme sobre viciados em sexo, poderiam tê-lo banalizado, tornando o tema com pretensão de cómico em jeito de gozo, com tiques de filme para adolescente com as hormonas aos saltos. Era disso que estava à espera, mas era Dómingo à tarde de sofá e não havia grandes escolhas.
   Felizmente tal não aconteceu. Uma forma ligeira mas séria de abordarem o tema do vício, especialmente o vício do sexo, quando este se torna patológico... as dificuldades em assumir os exageros, os comportamentos inadequados, a incapacidade de se relacionarem socialmente com outras pessoas fora da cama, as dificuldades de cumprir um tratamento, independentemente do número de passos deste, a importância dos grupos de apoio e da partilha de experiências, as recaídas e o que os conduz a isso, o peso que as recaídas deixa, o impacto de tudo isto na vida pessoal e, sobretudo relacional e afectiva... mas acima de tudo o assumir que é de doença que estamos a falar e não de tarados ou porcos que só pensam em sexo o dia todo.
   Contra todas as expectativas, gostei.