Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Sanidade

Sabes qual é a diferença?, continuou. É que, nos tempos de Cervantes, um homem como o fidlgo de la Mancha não era internado num hospital e medicado até ficar a babar-se num sofá com a l+ingua de fora. Podiam chamar-lhe louco, mas era livre de acreditar em si próprio. Já reparaste que vivemos, deste lado do mundo, em torno de um mito construído em contradição com o que vulgarmente se define por "sanidade"? Um homem crucificado, mortinho da silva, que ressuscita ao fim de três dias! Aí está a tua sanidade, a tua devastadora contradiçõ. Desafio qualquer um a explicar-me que raio é isso da loucura. (...)

(...)

Sanidade, vociferou. Milhares de pessoas de joelhos rumo a Fátima, ou a Nossa Senhora de Guadalupe. Séculos de carnificinas em nome de um deus ou de outro, não importa. Cultos pejados de celebridades que acreditam em ficção científica. E nós no meio disto, reduzidos à conivência, não vá aquilo que pensamos desta farsa incomodar o vizinho. Temos de ser fortes, é o que dizem. Resisitir à tristeza, à melancolia. Construir diques para nos protegermos dos sentimentos. Esconder os doentes da cabeça nos manicómios. è preciso andarmos em filinha, caladinhos, a toque de caixa, ao ritmo que eles querem. Para terem a certeza de que nunca nos ergueremos acima desta vulgaridade.

 

"Ensina-me a voar sobre os telhado", João Tordo 

Have a lovely week

IMG_3045.JPG

Porra, disse eu, quase a gritar, e que tal para poderes respirar? E sentires o calor do sol, e o frio da noite, e saboreares um fruto, e poderes olhar para as estrelas e perguntares-te que raio andamos aqui a fazer, e sentires medo e dúvida e esperança e aquelas coisas todas que as pessoas que as pessoas sentem quando não estão fechadas nas suas cabeças a tentar resolver uma equação impossível? E que tal isto tudo? Não te serve? Nada disto te chega?

João Tordo, «Ensina-me a voar sobre os telhados»

Amazing...

Você é fantástico. Já é. Quer o reconheça, quer não. Quer as outras pessoas o reconheçam, quer não. E não é por ter lançado uma aplicação para iPhone, nem por ter concluído os estudos mais cedo, nem por ter comprado um barco do caraças. Estas coisas não definem a grandeza. Você já é fantástico porque, em face da infindável confusão e da morte certa, continua a escolher com quem é que se importa e para quem é que se está a foder. Este mero facto, esta simples opção pelos seus próprios valores na vida, já faz de si lindo, já faz de si bem sucedido e já faz de si amado. Mesmo que não o compreenda. Mesmo que esteja a dormir num esgoto e a passar fome. Você também vai morrer, e isso é porque teve a sorte de viver." Mark Manson

Aquilo por que vale a pena viver

Calculo que não tardarás a regressar à universidade em Tóquio - declarou Midorikawa num tom calmo. - À vida real. Aproveita-a ao máximo. Por muito superficial e que monótona que a vida possa ser, vale a pena tirar partido dela, garanto-te. Olha que não estou a ser irónico nem contraditório. Simplesmente, no meu caso, o que a vida tem de bom transformou-se num fardo, e não consigo aguentar mais. Se calhar, não nasci talhado para isso. E então, como os gatos que sabem que vão morrer, procurei refúgio num lugar escuro e sossegado, onde espero tranquilamente que chegue a minha hora. Nem sequer me queixo. Mas contigo é diferente. Tu deverás ser capaz de aguentar o peso desta vida. Utiliza o fio da lógica para guardar junto a ti, no teu corpo, o melhor que puderes, aquilo por que vale a pena viver.

Haruki Murakami, A Peregrinação do Rapaz sem Cor

Não deixes...

IMG_1346.JPG

 

Não deixes que termine o dia sem teres crescido um pouco, sem teres sido feliz, sem teres aumentado os teus sonhos. Não te deixes vencer pelo desalento. Não permitas que alguém retire o direito de te expressares, que é quase um dever. Não abandones as ânsias de fazer da tua vida algo extraordinário. Não deixes de acreditar que as palavras e a poesia podem mudar o mundo. Aconteça o que acontecer a nossa essência ficará intacta. Somos seres cheios de paixão. A vida é deserto e oásis. Derruba-nos, ensina-nos, converte-nos em protagonistas de nossa própria história. Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua: tu podes tocar uma estrofe. Não deixes nunca de sonhar, porque os sonhos tornam o homem livre. Walt Whitman

Nós somos assim...

Nós somos assim, cheios de pressa de barrar a manteiga, de dar conselhos, de mudar uma porta de sítio para reconfigurar a geometria doméstica. Como toda a gente, temos planos, e são eles as âncoras que jogamos rente ao futuro, para nos movermos à força de braços para lá. Os mais novos, é claro, têm planos feitos da mesma imprestável merda, mas envernizam-nos com uma camada sonhada de grandiosidade que consiste em chegar a chefe de repartição ou em comprar uma casa maior. Na verdade, todos os sonhos são rídiculos e é o rídiculo que nos move, mas os velhos riem-se dos novoos e os novos riem das crianças , e o riso é ntergeracionalmente estanque, e é isso que mantém o circo a funcionar em continuo, sem que ninguém dê pela marosca e peça o dinheiro de volta ou se converta, interiormente e de forma radical, à anarquia misant´rópica ou ao ateísmo militante.

Autismo, Valério Romão

"Só somos felizes quando já não sentimos os sapatos nos pés

"Eu, quando olho para as coisas quero que elas me sejam familiares, como o meu tio e o meu marido, como o pão que se come às refeições. Quero deitar-me sempre com o mesmo homem, com os mesmos lábios. Quero que os lençóis de hoje me pareçam os lençóis de ontem, mesmo que os bordados sejam completamente diferentes. Não quero que os beijos que recebo sejam novos, quero que sejam velhos, quero que sejam os de sempre. Não me quero sobressaltar como quando era jovem. Uma pessoa só pode ter paz quando está ao pé das mesmas coisas, quando nem repara nelas, porque elas já fazem parte de si, como se as tivesse comido e mastigado e engolido e agora fossem carne da sua carne e sangue do seu sangue. Só somos felizes quando já não sentimos os sapatos nos pés." Afonso Cruz, O Pintor debaixo do Lava-loiças

Que esta semana vos traga muitos momentos em que não sentem os sapatos nos pés.

Escorrega

IMG_0868.JPG

 

"O escorrega ensina-nos que um pequeno, muito pequeno, momento de prazer exige que subamos escadas. O esforço para ser feliz é muito maior que aquilo que desfrutamos. É isso que nos diz o escorrega. Não é por acaso que todos nós somos educados com eles." #afonsocruz

O futuro não existe

o futuro não existe, como todos sabemos. O futuro será sempre uma coisa a provar. A única coisa que todos nós vemos é o presente. O futuro, bem como o passado, não passam de memórias e previsões. Coisas que não têm existência senão dentro de nós. Porém, até os maiores céticos creem no futuro. Como se sele existisse realmente, como se existisse fora de nós. É uma crença coletiva, apesar de apenas vermos o presente. Mas intuimos, o que abre o espectro da nossa percepção. Se podemos crer em algo que nunca vimos, será que não podemos acreditar em várias outras coisas que nunca vimos?

Um cético dirá que é muito simples: o dia de amanhã acontecerá porque tem acontecido desde sempre. Mas é o erro, o famoso erro, do indutivismo.

(...)

Não está provado que o dia de amnhã seja sempre o seguimento do dia de hoje. Tem acontecido, mas nada nos garante que não deixe de acontecer.

Afonso Cruz, O Pintor Debaixo do Lava - Loiças

De cada dia, para todas as noites

Normalmente, a sua mente era como uma praia apinhada de gente - durante todo o dia, andava a correr de um lado para o outro, deixando pegadas, construindo pequenos montes e castelos, anotando ideias e diagramas com os dedos na areia, mas, quando a maré da noite subia, ela fechava os olhos e permitia que cada onda de rítmica respiração lavasse a acumulação do seu dia e, em pouco tempo, a praia ficava limpa e vazia, e ela conseguia adormecer.

«Anna e o Homem - Andorinha», Gavriel Savit