«Em dias assim não me salvo nem sou boa companhia. Gosto de saber que os amigos estão longe, que os inimigos não me encontram, e que nem uns nem outros me virão reclamar as provas da amizade e do ódio que são a moeda do nosso comércio. E se alguma coisa desejo realmente nestas ocasiões, é encontrar as palavras mínimas, brevíssimas, as onomatopeias, se possível, que me expliquem o mundo desde o começo.»
José Saramago, "A Bagagem do Viajante"
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Há dias assim. Eu tenho muitos dias assim. Ou melhor, muitos finais de dia assim. E em dias assim não aptece nada nem ninguém, porque nada nem ninguém nos basta para eliminar aquele estranho vazio, ou peso, nem sei, que nos possui e nos deixa exaustos de tudo, até de nós. Tudo é suficiente para nos perturbar e produzir a mais simples das palavras parece uma batalha sobrehumana que não estamos capazes de travar nesse momento. Deixamos de falar, para nos expressarmos sobre a forma de grunhos e deixamos até de pensar, vivendo momentaneamente em modo piloto automático e, de preferência, em silêncio e sós. Porque são o silêncio e a solidão que, nesses dias, nos curam.
Há dias assim...