Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Sim. Isto é um post sobre o dia dos namorados

IMG_4185.JPG

 

Nunca fui propriamente uma pessoa romântica. Tive os meus devaneios, os meus sonhos, os meus momentos "aiiii, que lindo", mas nunca fui aquela pessoa de dizer amo-te a cada 5min, muito menos de fazer surpresas ou grandes programas romantico-lamechas. Mas a vida, os anos, a maturidade, e aqui entre nós que ninguém nos ouve, o mau feitio, tornaram-me muito mais distante e repelente dos grandes gestos de amor. Dias como o de hoje nunca me motivaram e agora encaixo-os na categoria das maiores pirosices e palermices que o calendário anual nos oferece. Chego a considerar deprimente e rídiculo as coisas que se fazem e se dizem neste dia, já para não falar na quantidade assustadora de dinheiro que se gasta em presentes neste dia. Felizmente a vida premiou-me com um namorado que respeita estas minhas manias (não me livrei de presentes no primeiro e segundo ano, mas depois consegui domesticá-lo!), apesar de ele ser uma pessoa extremamente afectuosa e até romântica e que eu sei que gosta de me mimar com presentes. Para mim, ou para nós, faz muito mais sentido marcar e festejar "o nosso dia de anos de namoro", porque essa sim será sempre uma data especial para nós e apenas para nós. De maneira que para mim (para nós) hoje foi mais um dia normal da semana. Sem gestos especiais, sem mensagens lamechas, sem flores, prendas ou jantares românticos. Uma relação que precisa disto e de gestos bonitos em dias calendarizados no mundo inteiro para sobreviver não é uma relação que valha a pena viver. Um amor que se alimenta no dia 14 de Fevereiro e é esquecido nos restantes 364 dias não é um amor que mereça ser amado. Porque o amor tem de ser diário, tem de estar nas pequenas coisas e acima de tudo surgir e manter-se naturalmente na nossa vida. Tem de fazer parte de nós de forma tão intrínseca que não precisa de datas para ser lembrado. O amor é a vida inteira, o corpo inteiro, o ano inteiro, a cada dia, todos os dias; e não uma sucessão de coraçõezinhos vermelhos espetados em vasos e afins num dia marcado, com mesa e hora marcada. Nestes dias vêm-me recorrentemente à cabeça as palavras mais sábias que alguma vez ouvi sobre o amor. Dizia o Dr. Pinto da Costa, no meu último ano de licenciatura, durante uma aula de psicologia forense, que os jovenzinhos apaixonados deveriam escrever as palavras I Love You dentro de cérebros e não de corações, porque o amor é e tem sempre de ser racional, começar e acabar no nosso cérebro e ser comandado por ele. É cérebro que nos faz amar, que nos ensina a amar. E também é o cérebro que nos ensina a valorizar o que é realmente importante nesta vida. Haja amor. Todos os dias. Sempre.

O amor...

   Não se procura o amor. Não se encontra o amor. Ele vem ter connosco. Acontece. Quando tem de ser e com quem tem de ser. Pode não ser para toda a vida (porque já nem nos filmes o é!); o importante é que seja para todos os dias, enquanto fizer sentido e for verdadeiro, puro e tudo. 

   O amor, como todos os sentimentos, é uma construção. Em todas as suas vertentes. O amor de pais, o amor de filhos, o amor de família, o amor de amigos, o amor de bichinhos, o amor-próprio, o amor romântico. O amor não é à primeira vista. A paixão, a atracção, o fascínio, pode sê-lo. O amor não. O amor nasce de todas as vistas, de cada vista. Esta e mais esta e mais aquela e até a outra de que não gostamos tanto. Porque o amor também é isto: as imperfeições, o menos bom. O amor não é amar apesar de tudo e com tudo. O amor é amar o que é de amar e nos faz amar e aceitar o que não é perfeito, o que não gostamos, mas porque é amor, aprendemos a viver com isso. 

   O amor não é das almas gémeas ou dos príncipes encantados. O amor real é das e com pessoas que não são gémeas, não são iguais, nem sequer são almas; são pessoas reais com almas e interiores tão diferentes que se tornam o melhor da vida e na vida um do outro. O amor não é dos casais perfeitos e felizes para sempre. O amor é daqueles que querem ser felizes um dia de cada vez e que acreditam, a cada dia, a cada momento, a cada desafio, a cada alegria, a cada lágrima, a cada sorriso, muito mais é o que os une, que aquilo que os separa. 

   O amor a sério não precisa de definições, de provas, de dias no calendário. O amor a sério, o amor que nos dá vida todos os dias, nem sequer vive de amo-te ou beijos e abraços. O amor que conta, o amor que realmente vale a pena, é aquele que não precisa de mais nada para além de alguém que o queira realmente viver. Todos os dias.