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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Divertida-Mente

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  Se há livros que fazem parte do Plano Nacional de Leitura, há filmes que deviam fazer parte de alguma espécie de Plano Nacional de Cinema. Este é sem dúvida um deles! Quando pensamos que a Disney/Pixar já teve todas as ideias fantásticas do mundo para filmes de animação, eis que surge este Divertida-mente, Inside_Out no título original. 

   Basicamente o que este filme oferece a miúdos e graúdos, especialmente graúdos da "área das emoções", é uma excelente lição sobre as emoções, sobre a forma como o nosso cérebro gere essas emoções e a importância fundamental de cada uma delas na estruturação das nossas memórias, do nosso pensamento e da nossa personalidade. De forma fantasiada e bem colorida e animada, está lá tudo, com as nossas memórias transformadas em pequenas esferas coloridas de acordo com a emoção que as gerou! As emoções/personagens principais são cinco: a alegria e a tristeza assumem os papéis principais, às quais se juntam a raiva, o medo e o nojo. A partir daqui é uma bela lição ligeira mas real de como funciona o melhor que nós temos, que é o nosso cérebro. A forma como ada uma delas gera comportamentos em momentos específicos, a transformação das memórias de curto-prazo em memórias de longo-prazo durante o sono, a formação de memórias-base que vão contribuir para a construção da personalidade individual de acordo com as vivências (fantástica a ideia de materializarem cada característica de personalidade que se vai formando em pequenas ilhas que se podem construir ou destruir de acordo com a experiência), o comboio do pensamento que transporta as nossas memórias, uma equipa que análise as memórias de longo prazo e que aspira aquelas que já não nos serão úteis atirando-as para o poço do esquecimento, a terra da imaginação, do pensamento abstracto, do raciocínio lógico e até uma lixeira, o nosso inconsciente, onde está tudo aquilo que queremos esquecer ou esquecemos mesmo. 

   Este é daqueles filmes que vale mesmo a pena ver. Não será tão recomendado para crianças pequenas, pois não compreenderão a verdadeira essência e objectivo deste filme, mas para os mais cresciditos, para adolescentes e até para nós adultos é realmente uma preciosidade! E aquela tristeza, que tanto tememos mas que tem um papel tão importante na história, é só o bonequino mais fofo dos últimos tempos! 

   Vejam, por favor! Para nos conhecermos melhor. 

Sim, eu (também) vi

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   Começo já: não gostei. Mas voltando atrás, a minha curiosidade pelo filme era a mesma que tive pelos livros: zero! Não os li, não senti a miníma vontade de os ler, passaram-me completamente ao lado e nem sequer sabia (sei) muito bem do que se tratava, apesar de na altura se falar da dita literatura erótica para mulheres. Ora bem, depois de ter visto o filme e acreditando que o filme é sempre pior que os livros, não percebo qual é a parte erótica da coisa, já que o que mais se salienta ali é o lado dominador e sadomasoquista do Mr. Grey (a propósito, não se arranjava um Grey melhorzinho na enorme e maravilhosa indústria cinematográfica?) e a total submissão da mulher, que ora parece gostar, ora não gosta, ora não sabe o que quer.

   Não gostei. Enquanto mulher, chegou a incomodar-me. Não conheço o resto da história, não conheço os motivos para estes comportamentos de Mr. Grey, vou tendo as minhas desconfianças clínicas, mas ainda assim aqueles actos não deixam de menosprezar e humilhar as mulheres. Quanto ao resto, se conseguirmos encontrar nesta história uma suposta veia romântica, ela está bastante infantilizada. Acredito que a juventude corra para os cinemas e devore estes livros, afinal quem não sonha com um jovem milionário que nos leva a passear de helicópetro assim como quem vai lá à Foz comer um gelado? Mas não há conteúdo nesta história e se alguma lição podemos tirar daqui é que o ser humano tem comportamentos que realmente nunca seremos capazes de compreender. 

What makes you happy?

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   Ontem estive a ver o filme "Hector and the search for hapiness". Basicamente, trata-se de um psiquiatra que, cansado das rotinas e das infelicidades recorrentes dos seus pacientes, a quem sente que já não está a ajudar por ser ele próprio incapaz de saber o que o faz feliz, parte em busca da felicidade, ou melhor dizendo, parte na descoberta daquilo que faz as pessoas felizes. Não é um grande filme. Não gostei particularmente, mas achei curioso o tema. 

   Afinal, o que é a felicidade ou que nos faz felizes? Na sua viagem, o Hector descobriu que (estes princípios são enumerados ao longo do filme):

  1. Fazer comparações pode prejudicar a nossa felicidade;
  2. Muitas pessoas pensam que ser feliz é ser mais rico ou mais importante que os outros;
  3. Muitas pessoas só conseguem imaginar a felicidade no futuro;
  4. A felicidade é a liberdade de poder escolher amar mais do que uma pessoa ao mesmo tempo;
  5. Às vezes a felicidade é não conhecer a história completa;
  6. Evitar a tristeza não é o caminho para a felicidade;
  7. Felicidade é seguir a nossa vocação.
  8. Felicidade é ser amado por aquilo que somos;
  9. O medo impede a felicidade;
  10. Felicidade é sentir-se inteiramente vivo;
  11. Saber ouvir é saber amar;
  12. A felicidade é saber comemorar.
  13. Todos nós temos a obrigação de ser felizes. 

   Mais do que na felicidade, eu acredito e procuro momentos felizes. Acho a felicidade é um estado demasiado perfeito para ser humana e permanentemente possível. O que me faz feliz são coisas, sabores, cheiros, pessoas, momentos... que me proporcionam emoções. Procurar a felicidade é demasiado mítico, demasiado fairy tail. Procurar e viver (ou ser surpreendida) por momentos felizes é muito mais simples, muito mais real e muito mais deste mundo. E acima de tudo, não coloca a fasquia demasiado alta, e fasquias altas são as maiores inimigas da felicidade porque andam de mão dada com a ilusão e a possibilidade iminente de falharmos. 

   Ser feliz é muito mais do que 13 princípios. Ser feliz nunca poderá ser reduzido a 13 ou 130 princípios, porque a felicidade não é permanente, não é um estado; é construida diariamente, momento a momento, adquirida, conquistada, vivida. E viver momentos felizes (e proporcionar momentos felizes aos outros) deverá ser a nossa maior missão nesta vida. 

   E como diz o outro "façam o favor de serem felizes!"

And my oscar goes to...

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Fazendo já aqui a minha noite de óscares, porque o sono já começa a pesar muito, melhor actor e melhor actriz atribuidos indiscutivelmente e sem qualquer concorrência possível, especialmente no caso do melhor actor.

Quanto ao melhor filme, tenho as minhas dúvidas, pois nenhum deles me arrebatou o coração e nenhum deles me pareceu nenhuma pérola do cinema que mereça ser visto e revisto (mas isto sou eu a falar, que detestei Birdman e os Jogos de Imitação!). Se me perguntarei qual gostei mais de ver dos vários candidatos, coloco quatro na lista: A Teoria de Tudo (um grande filme, sim, mas que é uma biografia cinematográfica e uma adaptação de um livro, por isso nunca um candidato real a um óscar de melhor filme), Sniper Americano (humanizou-se a guerra mais uma vez, deu-se-lhe uma cara bonita, Bradley Cooper está muito bem mas excessivamente inchado, mas é mais um que não agarra um prémio, porque filmes de guerra há e haverá sempre aos montes), Selma (eu gostei, vi bons desempenhos, é uma luta real, é mais uma vergonha do ser humano, é mais uma história de um grande homem, é sobre um tema que me é muito querido, mas não tem força para vencer) e Boyhood. Este último parece-me ser o candidato mais provável ao óscar de melhor filme pela originalidade e pela naturalidade quase em modo documentário sobre a vida real. 

Sejam quais forem as decisões, estes serão os meus vencedores. 

"O meu nome é Alice", agora o filme

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O problema de lermos um livro antes de vermos um filme é que já sabemos tudo o que vai acontecer e acabamos sempre a pensar "então isto e aquilo que vem no livro, não aparece aqui?". Neste caso não foi excepção; muitos momentos e pormenores desapareceram no filme e algumas coisas foram mesmo alteradas. Vale-nos a Julianne Moore, que está enorme, magnífica, estupenda no seu papel de Alice (and the oscar goes to...) e a temática do filme, que para mim me é extremamente "querida", não só porque é a minha realidade profissional, mas também porque é uma realidade que me assusta tremendamente e este filme consegue assustar-nos, consegue abrir-nos os olhos, consegue mostrar-nos o sofrimento impossível e impensável que é o de saber que aos poucos vamos deixar de ser nós e perder precisamente tudo aquilo que somos. 

Se eu ficar...

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E se estivessemos à porta da morte e pudessemos sair do nosso corpo, observar e conhecer tudo o que se passa à nossa volta, e escolher lutar pela vida, apesar de termos perdido quase tudo o que dá sentido à nossa vida ou partir?

As experiências de quase-morte estão mais que faladas, a possibilidade de sairmos do nosso corpo e nos vermos de fora tem sido mais que usada em cinema e livros, mas este filme não cai em banalidades, não torna ridícula esta possibilidade e leva-nos a pensar que, de facto, há pessoas que lutam pela vida com uma força sobrehumana, enquanto outras facilmente desistem de continuar a viver. O que fará a diferença entre elas? Não existirá realmente um qualquer nível de consciência que nos permita decidir em função do que temos do lado de cá?

Gostei. 

Thanks for sharing

 

   Tratando-se de um filme sobre viciados em sexo, poderiam tê-lo banalizado, tornando o tema com pretensão de cómico em jeito de gozo, com tiques de filme para adolescente com as hormonas aos saltos. Era disso que estava à espera, mas era Dómingo à tarde de sofá e não havia grandes escolhas.
   Felizmente tal não aconteceu. Uma forma ligeira mas séria de abordarem o tema do vício, especialmente o vício do sexo, quando este se torna patológico... as dificuldades em assumir os exageros, os comportamentos inadequados, a incapacidade de se relacionarem socialmente com outras pessoas fora da cama, as dificuldades de cumprir um tratamento, independentemente do número de passos deste, a importância dos grupos de apoio e da partilha de experiências, as recaídas e o que os conduz a isso, o peso que as recaídas deixa, o impacto de tudo isto na vida pessoal e, sobretudo relacional e afectiva... mas acima de tudo o assumir que é de doença que estamos a falar e não de tarados ou porcos que só pensam em sexo o dia todo.
   Contra todas as expectativas, gostei.

O olhar de uma psi sobre o Robocop

 

   Robocop não é, de todo, o tipo de filme que eu escolheria para ver, mas as tardes de Domingo em casa têm destas coisas e curiosamente tenho de admitir que achei o filme interessante. Não pela parte do enredo ou do tipo de filme em si, mas pela "filosofia" que lhe está subjacente: num futuro próximo (2019 é já ali ao lado) as máquinas substituirão o homem em larga massa, até aqui nada de novo; mas e se essas máquinas não fossem completamente máquinas, mas sim robôs com cabeça, cérebro, coração e pulmões de gente que, se não fosse "robotizada" acabaria por morrer? Mais que isso, e se nos tornassemos em robôs humanos, com uma carapaça de aço e emoções de gente? E se alguém, ainda completamente humano, fosse capaz de nos comandar, ao ponto de controlar o tipo e quantidade de neurotransmissores que se passeiam pelo nosso cérebro, transformando-nos em mais ou menos máquinas ou mais ou menos humanos? Quanto sofrimento evitariamos, quanta coisa boa perderiamos, quantas memórias não iriam ser construidas? Quantas lágrimas ficariam por chorar e quantos sorrisos não iluminariam vidas? Se perdessemos o livre-arbítrio e esta nossa natureza imprevisível e inexplicável, mas naturalmente humana, será que nos continuariamos a chamar gente e a chamar de vida esta coisa assustadora mas magnífica que é andar por cá?

"Her" e a solidão

 

   Solidão. É disto que fala este filme. É isto que é este filme.

   Numa época em que vivemos cada vez mais conectados virtualmente mas totalmente desconectados das relações humanas reais, este é um filme que, passado num futuro ainda mais virtual que o nosso presente (está visto que isto tem tendência para piorar), nos mostra que o ser humano vai sempre procurar incansavelmente estabelecer relações com alguém, chegando mesmo a contentar-se com relações virtuais, não-humanas diria mesmo. Relações sem corpo, sem toque, sem cheiro, sem olhos nos olhos, mas com uma voz que nos diz tudo aquilo que nós queremos (ou precisamos de) ouvir. Neste mundo completamente virtual que é o filme e para o qual caminhamos a passos largos e assustadores, perdeu-se a capacidade de estar com o outro real. Tudo está à distância de um chamamento dirigido a uma máquina, o mundo parece uma realidade fácil e as relações assumem uma nova dimensão de "operating system". Relamente, tudo parece fácil. Mas a solidão é tanta, que chega a doer pensar que um dia nós, que hoje somos espectadores, podemos ser as personagens principais de uma realidade que facilmente deixa de ser real de tão virtual que é.

   Solidão. É isso que está neste filme.

   E é isto que vai estar nestas vidas quando deixarmos de abraçar as pessoas para passarmos a abraçar vozes.

 

Nota final: ainda assim, tenho de dizer que este filme não me encheu as medidas...

Looking for connections

   Está na essência do ser humano esta busca constante por ligações... O ser humano precisa de se sentir e de se saber ligado a algo ou, principalmente, a alguém. Precisa, acima de tudo, de saber que existe alguém, ainda que não sempre presente, que estará sempre lá. 
   No mundo actual as relações são cada vez mais frias e distantes. Vivemos numa sociedade em que tudo está à distância de um click, incluindo as relações. É por isso normal para algumas pessoas que esta busca por ligações/relações seja também ela virtual e se sintam confortáveis com tal. A imensidão de redes sociais que hoje existem ajudam em muito nisto, ou serão mesmo as responsáveis. Tudo se tornou artificial e o homem está de tal forma corrompido por estas visões da modernidade que já se acomodou a relações virtuais. Se antes não passava sem estar com os amigos, hoje não passa sem lhes cuscar o perfil no Facebook. Se antes sentia necessidade de ligar a alguém para lhe contar istou ou aquilo, hoje tudo se resolve em 150 caracteres ou menos. Se antes chorava no ombro de um amigo, hoje os ombros são frases escritas num ecrã de computador partilhadas em grupos de ajuda online...and so on and so on...resumindo, se antes estavamos cá uns para os outros, hoje estamos online/offline. E isto parece que nos basta, embora esteja totalmente errado e seja completamente não-humano. 
   Tudo era bem mais simples e verdadeiro e intenso e sincero (e humano) quando as pessoas sabiam estar umas com as outras e as redes sociais não nos facilitavam a socialização. De repente, desaprendemos a estar com alguém real e passamos a perder horas em frente a ecrãs que nos mostram apenas aquilo que alguém quer mostrar e nunca a realidade. Se perdemos a nossa essência? Talvez. Não perdemos a essência da busca por ligações; não perdemos a necessidade de aceitação social, a necessidade do contacto social, a necessidade de ter um outro para além de nós. Simplesmente deixamos de saber procurar o outro de carne e osso e de saber estar em relações "à moda antiga", que era a verdadeira e única forma de se fazerem estas coisas de estabelecer relações entre pessoas tão diferentes mas que se precisam tanto. Afinal, já dizia o livro, ninguém morre sozinho. Mas as relações dos tempos modernos são cada vez mais solitárias...
 Quanto ao filme, vale a mesmo a pena. Uma agradável surpresa e um abanão nesta história da procura de ligações, virtuais ou não, o do que daí pode resultar.