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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Para todas e cada uma de nós, mulheres

Comandamos o mundo porque sabemos fingir tudo: que amamos quando sentimos asco, que não amamos quando ardemos em desejo, que temos prazer sem ter, que sofremos quando estamos a ser abusadas, mesmo que daí tiremos algum prazer. Conseguimos fazer crer que estamos prenhas sem estar, sabemos como nos livrar dos filhos indesejados e fazer com que isso pareça um acidente, sabemos calar-nos quando a sensatez o manda e espalhar as intrigas quando é do nosso proveito.

Somos nós que costuramos e que cozinhamos e, por isso, se quisermos envenenar alguém, sabemos como fazê-lo através da comida ou dos panos. Somos nós que amamentamos os homens quando eles nascem e eles precisam de nós para sobreviver. E somos nós que os geramos, que os parimos, que damos seguimento aos seus sonhos e ambições de sucessão. Somos as rainhas dos nossos lares, as senhoras dos nossos catres e dos nossos castelos. Sabemos agradar tão bem quanto desprezar. Conhecemos as fraquezas dos homens e fazemo-nos tontas perante eles para que os possamos manobrar melhor, como se manobra o boi no arado ou o cavalo montado. 

Sabemos em que dias podemos emprenhar e como contar as luas para enganar quem pretendemos. E quando ficamos à espera de um filho, apenas nós sabemos quem é o pai. Não admira por isto tudo que os homens mais astutos e mais sábios nos temam tanto. Nós somos as grandes feiticeiras do mundo, as senhoras do poder mais forte que é o poder do desejo, comandado pelo pecado mais perigoso, o da luxúria. Os filhos respeitam-nos e os homens temem-nos, mas ninguém nos entende, porque somos seres complexos, dúbios, dissimulados. Numa palavra, somos mulheres. 

"Minha Querida Inês", Margarida Rebelo Pinto

Viver com amor

«Conhecer o amor de um homem como aquele que Deus me concedeu através de Pedro é uma sorte tão rara como ter filhos perfeitos e saudáveis. E deve ser por isso que o mundo não nos perdoa: por sermos tão felizes, por termos alcançado o que o comum dos mortais nem sequer se atreve a almejar: amor, paixão, entendimento, uma casa, uma família, uma vida vivida na plenitude de um amor tão amigo. Ninguém consegue ser feliz com a alegria alheia. A felicidade é uma maldição cravada em carne viva no coração de todos aqueles que vivem sem ela, tal como o amor. Quem vive sem amor não consegue conviver com os apaixonados. E quem vive com amor já não consegue aprender a viver de outra maneira.»

"Minha Querida Inês", Margarida Rebelo Pinto

«Minha Querida Inês», Margarida Rebelo Pinto

A estreia surpreendente de Margarida Rebelo Pinto no romance histórico A história trágica de D. Inês de Castro, pela sua universalidade e intemporalidade, é inesgotável. Margarida Rebelo Pinto revela-nos os meandros deste universo fascinante, desmontando todos os passos da vida de D. Inês na semana que antecede um destino inelutável: a sua execução no dia 7 de Janeiro de 1355. Através da perspectiva de D. Inês vamos conhecendo os segredos da alma desta heroína e as maquinações das razões do Estado que determinaram o fim de uma vida mas não do amor. Uma estreia surpreendente no romance histórico de uma escritora que, pela sua extraordinária capacidade de penetrar no íntimo de cada personagem, dá voz a D. Inês, D. Pedro, D. Afonso IV e a outros protagonistas deste momento inesquecível da nossa História. Despidos das suas máscaras, ficamos a conhecer melhor as suas forças, fraquezas, motivações e desejos íntimos. Novas e surpreendentes revelações deste período único da História de Portugal dão sentido à frase que eterniza o amor de D. Inês e de D. Pedro: “Até ao fim do mundo”.
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   Já por aqui disse que o romance histórico é um dos meus géneros literários de eleição, especialmente pela possibilidade de aprendizagem que representa. Encontrei este livro em promoção e fiquei interessada em conhecer um pouco melhor a história da nossa Inês de Castro. Fiquei um pouquito desiludida, porque esperava um pouco mais de história (pelo menos fiquei a saber que D. Pedro era gay!). De resto é a escrita de Margarida Rebelo Pinto, sempre dada à lamechice e ao romance sofrido. 
   Um pouco aquem dos habituais romances históricos. 

E depois do amor, amor.

«Somos sempre muito mais na vida dos outros do que imaginamos. Talvez nunca tenhas percebido o quanto te amei, mas ainda não é tarde para abrir o coração e deixar que a voz da alma fale mais alto do que a razão. O amor é uma terra estranha onde tudo renasce do nada, onde tudo é, ainda e sempre, possível. Basta querer e acreditar. Não é fácil amar, o impossível é viver sem amor.  

Vem dar-me um abraço à casa que já foi nossa, vem sem medo e de coração aberto. Aparece quando quiseres, quando sentires que é o momento certo, não antes. Tenho a certeza de que ainda nos conseguiremos rir e conversar, como sempre fizemos enquanto estivemos juntos. Riso e entendimento, sempre e para sempre. Só se vive uma vez, e tudo o que mais quero, além de ser feliz, é que também o sejas.

Todos temos direito à felicidade. Apenas precisamos de encontrar o caminho certo que nos guie até aos nossos sonhos. E depois segui-lo, sem olhar para trás.»

Margarida Rebelo Pinto, "O amor é outra coisa" 

Cortar laços

«É difiícil cortar laços, dói tanto como uma ferida aberta. Dói o corpo da ausência do outro corpo, dói o coração que não pode parar de bater mas que queria dormir para esquecer, dói a alma que se sente esvaziada, dói a raiva e o ciúme e o medo de perder quem nos é tão querido, mas acima de tudo dói a sensação de termos falhado, de não termos conseguido ser mais fortes, de termos permitido que a vida vencesse o amor, e não o seu contrário.» 

Margarida Rebelo Pinto, "O amor é outra coisa"

Tudo o que é o amor

«É muito fácil imitiar o amor. Vivemos rodeados de imagens e sufocados por músicas que nos apelam constantemente para cenários idílicos, casais perfeitos, comédias românticas em que o amor vence sempre a vida, ou amores perdidos que nos roubaram o coração em canções de qualquer época. O amor é um dos nossos motores de vida, quem vive sem ele seca como uma árvore sem água, quem vive sufocado nele pode afogar-se em mágoas ou na espuma dos dias.

 O amor verdadeiro dá muito trabalho. É como um full time job sem folgas aos fins-de-semana e sem ordenado no final do mês. É estar lá para o outro, tanto nos dias em que amamos, como nos dias em que estamos fartos dele. O amor não é feito de palavras nem de grandes gestos românticos, mas de provas. Não é abstacto, nem transmissível: se amamos uma determinada pessoa não podemos passar esse amor para outra. Temos de deixar de amar a anterior, esquecer, e recomeçar do zero, senão não é amor, é uma fuga para a frente, uma transferência afectiva,uma solução fácil e práctica, e tudo isto são imitações do amor.

 Talvez a lição mais difícil de aprender acerca do amor seja que o amor não se aprende. Treina-se com o tempo, apura-se com a maturidade, mas não se aprende, porque ou o temos dentro de nós ou não o temos, e quem o tem quase nunca o domina. Podemos saber o que seria certo fazer, mas nem sempre o fazemos.Podemos errar, mesmo quando não queremos. Podemos tratar mal aqueles que amamos sem nos apercebermos. Mas quem ama perdoa ainda que não esqueça, quem ama segue em frente, quem ama não se agarra a desculpas, arregaça as mangas e não desiste, porque o verdadeiro amor é o avesso do medo e a vontade o seu maior aliado.

 Amar é proteger, é acreditar, é construir, é sonhar com os pés na terra. Amar é planear. E depois trabalhar em conjunto para que os planos e os sonhos se realizem. Nenhum amor sobrevive sem construção, recosta á sombra da bananeira, porque cada história de amor tem a sua própria vida, a tal terceira entidade na qual tanto acredito. Se não cresce e se desenvolve, se não se transforma nem amadurece, acaba por morrer. Para construir, é preciso acreditar.»

Margarida Rebelo Pinto, "O amor é outra coisa"

Perder o amor

 

«Não perdemos aqueles que amamos de um momento para o outro, a não ser quando a morte os leva. Na verdade, perdemos aqueles que amamos a cada decepção que eles nos dão, a cada ausência de um gesto de atenção, de mimo, de amizade ou de respeito. Vamos perdendo aqueles que amamos quando percebemos que não nos amam da mesma maneira, quando eles se instalam na nossa vida mas não se decidem a assumi-la, quando nos sentimos usados, alugados, e, consequentemente, desconsiderados. O processo de deixar de amar alguém que faz parte da nossa vida é complexo, penoso e tudo menos linear. O tempo passa, as coisas não mudam e nós ainda amamos aquela pessoa, mas amamos cada vez menos coisas nela, porque o que não gostamos ou não aceitamos vai crescendo como uma bola de neve.»

Margarida Rebelo Pinto, "O amor é outra coisa"

O amor

 

«Aliás, no amor, a maior parte das coisas não se explica, porque o amor é feito de uma matéria que está acima de todas as outras e que acumula a paixão, a atracção, o desejo, a amizade, o riso, o entendimento, a cumplicidade, a entrega, o respeito. O amor não se pode parcelar, ou é tudo ou é nada. E se aqueles que nos amam não forem loucos por nós, então é porque esse amor não vale a pena.»

Margarida Rebelo Pinto, " O amor é outra coisa"

Mel

 

«Riso e entendimento eram a matéria-prima dos nossos dias. Ele puxava pelo meu lado mais leve. Sentia-me feliz, estava sempre a brincar e a fazer piadas. Ele ria e respondia. Lembro-me de começarmos na risota ao pequeno-almoço, como se o humor viesse misturado no café com leite ou barrado nas torradas entre a manteiga e o mel.»

Margarida Rebelo Pinto, "O amor é outra coisa" 

A fábula do amor

 

«Não escrevo para ele. Escrevo para que tu me possas ouvir, enquanto vou arrumando a cabeça e limpando o coração, mesmo sabendo que a primeira tarefa é infinitamente mais fácil do que a segunda. Ainda não consigo pensar em eliminá-lo de nenhum dos meus sistemas. Não é que não ambicione alcançar esse dia, mas da mesma maneira que não se força o amor, também não se deve forçar o esquecimento. Tudo tem o seu tempo e modo, estou ainda em reflexão, a aprender a aceitar uma nova realidade, da qual, aparentemente, ele já não faz parte. O que quero mesmo é contar uma história, cujo início já conheces, mas de uma outra forma. Como uma fábula. As fábulas são simples, claras, lineares. As fábulas têm um fim. O mais importante é que as fábulas têm uma moral. E, quando lá chegar, sinto que vou resgatar a paz perdida, onde quer que o Diogo esteja, dentro ou fora da minha vida.»

"O amor é outra coisa", Margarida Rebelo Pinto