O casamento
Em criança era assim que eu imaginava a vida de casado.
No dia depois do casamento, começa-se a andar de mãos dadas, a atravessar um planalto grandioso e vasto, e no horizonte à nossa frente há obstáculos espalhados, mas também há prazeres, pequenos oásis, por assim dizer - os filhos que se vão ter e que crescerão saudáveis, amorosos e fortes, os netos, as manhãs de Natal, as férias, a segurança financeira, o sucesso no trabalho. Fracassos também, mas nada que nos mate. Há portanto altos e baixos, ondulações na planície, mas geralmente consegue-se ver o que se aproxima, e caminha-se nessa direcção, a dois, de mão dada, durante trinta, quarenta, cinquenta anos, até que um escorrega pela beira abaixo e o outro segue pouco depois. Ao olhar para cima, da perspectiva de uma criança, era isto que o casamento parecia.
Bem, agora posso dizer-lhe que a vida de casado não é de todo um planalto. Há ravinas e grandes picos dentados e fendas profundas escondidas que nos atiram pela escuridão às apalpadelas. Depois há extensões monótonas, ressequidas, que se tem a sensação de nunca mais acabarem, e grande parte da jornada passa-se em silêncio nervoso, e às vezes não se consegue ver de todo a outra pessoa, às vezes ela vagueia para muito longe, perde.se completamente de vista, e a jornada é dura. É simplesmente muito, muito, muito dura.
"Nós", David Nicholls