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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

O verde em nós

 

   Hoje, de regresso a casa, a estrada estava aberta para mim. Todos os semáforos estavam verdes e um percurso que demora os habituais 30 min, hoje ficou-se pelos 15 minutos. Qual a importância disto para merecer um post neste meu humilde cantinho, perguntam vocês. Pode até ser um acontecimento banal, mas todo este verde me fez pensar como na vida existe um timing perfeito para tudo, até mesmo para avançarmos. Em frente. Para a mudança.

   Talvez este pensamento seja influenciado pelo Sr. O., que hoje conheci. Aos 49 anos, o Sr. O, é ex-toxicodependente, "limpo" à cerca de 15 dias. É Sr. O apenas de nome, desconhecido da e pela sociedade. Não tem qualquer documento de identificação, não tem casa, a família não quer saber dele. A tanta ausência junta-se o teste positivo para o VIH e para a Tuberculose. Vive num abrigo da AMI, mas quer avançar com a vida. É um ser extremamente rico em conhecimentos técnicos e práticos das suas áras de trabalho, dos seus interesses. É rico em sabedoria e em experiência. Boas e menos boas. Experiências em que viveu para sorrir e experiências nas quais "a cabeça não teve juízo", como o próprio refere. O timing perfeito conduziu à mudança. A doença atirou-o para o hospital e colocou-o às portas da morte e agora ele quer mudar. Quer trabalhar, quer estudar, quer construir uma vida, recuperar o que perdeu e conquistar coisas novas. Quer uma vida com sinal verde para avançar. Sem vermelhos, porque o maior vermelho já ele ultrapassou. Para já. Os amarelos serão muitos, com toda a certeza, mas determinação e força derrubam barreiras.

   E nós, quantos sinais amarelos já não encontrámos por essas estradas fora (deixemos os vermelhos, que esses implicam restruturação e mudança e nem todos estamos preparados para os ultrapassar)? E quantos sinais verdes já teremos nós ignorado? Quantas vezes ficamos parados no verde, com medo de avançar, com medo do que virá da esquerda e da direita?

   Sou positiva por natureza e optimista por vocação. Gosto do verde, procuro o verde e avanço-o sem medo. Acelero quando vejo o amarelo. Dos semáforos. O das estradas. E os da vida. Não fujo. Ultrapasso-os. Venço-os. Vivo-os, interiorizo-os, interpreto-os e resolvo-os. Ok, ok! Nem sempre! Às vezes abrando. Por medo, confesso. Do que poderá vir. Do incerto, do inesperado. Sentir medo é instinto, primordial. Humano é ultrapassar os medos. E todos nós somos capazes. Todos. Com mais ou menos ajuda. Mas o mais forte verde da vida está dentro de nós, algures entre os complexos circuitos cerebrais e o coração. Quem o procura, encontra-o.