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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

«Alabardas", José Saramago

   Aquando do seu falecimento, em 2010, José Saramago deixou escritas trinta páginas daquele que seria o seu próximo romance; trinta páginas onde estava já esboçado o fio argumental, perfilados os dois protagonistas e, sobretudo, colocadas as perguntas que interessavam à sua permanente e comprometida vocação de agitar consciências.
Saramago escreve a história de Artur Paz Semedo, um homem fascinado por peças de artilharia, empregado numa fábrica de armamento, que leva a cabo uma investigação na sua própria empresa, incitado pela ex-mulher, uma mulher com carácter, pacifista e inteligente. A evolução do pensamento do protagonista permite-nos refletir sobre o lado mais sujo da política internacional, um mundo de interesses ocultos que subjaz à maior parte dos conflitos bélicos do século xx.
Dois outros textos - de Fernando Gómez Aguilera e Roberto Saviano - situam e comentam as últimas palavras do Prémio Nobel português, cuja força as ilustrações de um outro Nobel, Günter Grass, sublinham.

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  Seria José Saramago. No seu melhor. E as 30 páginas que escreveu antes de nos ser levado deixam-nos ainda mais saudades das suas palavras...

«A Noite», José Saramago

Depois de ter feito jornais, escreveu sobre eles. Foi em "A Noite", a primeira obra dramática de Saramago que o escritor dedica a Luzia Maria Martins, a pessoa que o "achou capaz de escrever uma peça". Seria mesmo. A noite de que se fala nesta peça ficou para a história: de 24 para 25 de Abril. A acção passa-se na redacção de um jornal em Lisboa e autor avisa: "Qualquer semelhança com personagens da vida real e seus ditos e feitos é pura coincidência. Evidentemente." Nem outra coisa seria de esperar. A ironia passa também pela história desta noite em que administradores e redactores entram em conflito. Uns a gritar que a máquina "há-de parar" e outros a defender que ela "há-de andar". Quando o escreveu, Saramago já sabia que, para o bem e para o mal, a máquina tinha continuado a andar.

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   Mais um livro para compôr a minha colecção de Saramgo, que fica cada vez mais difícil de aumentar, dada a grande quantidade de livros que já tenho.

   Este trata-se de uma peça de teatro e por isso é leitura é rápida e menos envolvente. Fiquei com a sensação de pouco Saramago nesta história.

Ver por dentro, como Blimunda

“Quando me dás a mão, quando te encostas a mim, quando me apertas, não preciso ver-te por dentro.” 

 

   Blimunda é uma das personagens dos livros de Saramago que mais me fascina. Gosto daquele seu lado místico e mágico, que a torna capaz de recolher vontades mas, sobretudo, que lhe dá aquele dom magnífico de "ver por dentro das pessoas e das coisas". Quantos de nós, comuns mortais, não gostariam, também, de ver por dentro? E para nós, psicólogos, quão bom seria sermos capazes de ver por dentro das pessoas? 

   Enquanto psicóloga, a minha função é um bocadinho essa: chegar "ao dentro" das pessoas, que é, talvez, das coisas mais difíceis de se fazer. O caminho para lá chegarmos é múltiplo, mas sempre árduo. Dependemos muito do que o outro nos diz, e "o dentro" das pessoas chega-nos através das palavras que partilham connosco. Umas vezes chega-nos claro e directo, outras vezes é subentendido. Mas este "dentro" pode não ser o "dentro" verdadeiro e este é talvez o maior handicap da profissão de psicólogo: corremos o risco permanente da mentira. O outro diz o que quer, verdades e mentiras, e é precido um cuidado muito grande na análise que fazemos daquilo que ouvimos. 

   Ora se pudessemos ter um bocadinho de Blimunda dentro de nós, este risco ficava bem reduzido. É certo que ficavamos todos um tanto transparentes e que muitos de nós não iamos gostar que nos vissem por dentro ou sequer de ver por dentro das outras pessoas, mas o que é certo é que esta "magia da Blimunda" nunca me saiu da cabeça, precisamente porque esta era o tipo de competência que nos deveriam ensinar na faculdade ou para a qual deveria existir formações. Se eu pudesse ver por dentro, em vez de deduzir o que vai lá dentro, seria capaz de ajudar muitas mais pessoas...Faça-se magia, então! 

«A Bagagem do Viajante», José Saramago

 

«Um conjunto de crónicas de José Saramago, publicadas pela primeira vez no vespertino ""A Capital"" (1969) e no mítico ""Jornal do Fundão"" (1971-1972). Uma escrita fluida para falar de ""foguetes e lágrimas"" ou de ""o melhor amigo do homem"". E de ""quando morri virado ao mar"". Para nos contar o seu gosto pelos museus e as pedras velhas. Para nos dizer que ""não há nada mais vivo do que a aguarela de Albrecht Durer"". Para responder que: ""Se alguém me perguntar o que é o tempo, declaro logo a minha ignorância: não sei. ""São mais de 60 crónicas, pequenas histórias sobre temas variados e, na aparência, inocentes, já que a censura vigente não permitia grandes atrevimentos. Ainda que por entre as subtilezas de linguagem se possam encontrar alguma farpas.

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   De quando em vez lá vou encontrando um ou outro livro de Saramago que ainda não tinha cá por casa e é sempre uma delícia lê-los, até já me restam muito poucos por ler (provalvemente só os de crónicas e as peças de teatro).

   Este é um conjunto de crónicas, ou pequenas histórias, contadas pelas mãos do nosso Nobel. Algumas mais agradáveis de se ler que outras, mas sempre com o cunho de Saramgo que é, logo à partida, garantia de literatura de qualidade.

  

Em (há) dias assim...

«Em dias assim não me salvo nem sou boa companhia. Gosto de saber que os amigos estão longe, que os inimigos não me encontram, e que nem uns nem outros me virão reclamar as provas da amizade e do ódio que são a moeda do nosso comércio. E se alguma coisa desejo realmente nestas ocasiões, é encontrar as palavras mínimas, brevíssimas, as onomatopeias, se possível, que me expliquem o mundo desde o começo.»

José Saramago, "A Bagagem do Viajante"

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   Há dias assim. Eu tenho muitos dias assim. Ou melhor, muitos finais de dia assim. E em dias assim não aptece nada nem ninguém, porque nada nem ninguém nos basta para eliminar aquele estranho vazio, ou peso, nem sei, que nos possui e nos deixa exaustos de tudo, até de nós. Tudo é suficiente para nos perturbar e produzir a mais simples das palavras parece uma batalha sobrehumana que não estamos capazes de travar nesse momento. Deixamos de falar, para nos expressarmos sobre a forma de grunhos e deixamos até de pensar, vivendo momentaneamente em modo piloto automático e, de preferência, em silêncio e sós. Porque são o silêncio e a solidão que, nesses dias, nos curam.

   Há dias assim...

«O conto da Ilha Desconhecida», José Saramago

O Conto da Ilha Desconhecida é um livro do escritor português José Saramago, lançado em 1997. É uma história na qual, em poucas páginas, o autor descreve metaforicamente o mundo, referindo também aspectos do ser humano, suas ambições e, em especial, as suas frustrações. Através desse texto o autor realiza também uma critica à burocracia, logo no inicio de seu texto.

A obra retoma um mote caro a Fernando Pessoa: "Para viajar, basta existir". É quando o sonho e a imaginação tornam a aventura possível e a ficção é capaz de levar o homem daqui para ali, saindo ele do lugar ou não.

Trata-se de um homem que, depois de insistir muito, consegue do rei uma embarcação para procurar uma ilha que, segundo ele, ainda não tinha sido descoberta por viajantes e geógrafos.

"O homem nem sonha que, não tendo ainda sequer começado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a futura encarregada das baldeações e outros asseios, também é deste modo que o destino costuma comportar-se connosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar, Acabou-se, não há mais que ver, é tudo igual."
(retirado da wikipedia)

Viajar

Viajar deveria ser outro concerto, estar mais e andar menos, talvez até se devesse instituir a profissão de viajante, só para gente de muita vocação, muito se engana quem julga que seria trabalho de pequena responsabilidade, cada quilómetro não vale menos que um ano de vida.
"Viagem a Portugal", José Saramago