Quando uma cama sempre foi para um, não é fácil passar a ser para dois
Tenho em mim uma característica desde pequena: não gosto de dormir acompanhada. Quando se é menina e principalmente filha única a coisa resolve-se bem e não é problema de maior, mas quando se começa a crescer e a ver bem de perto a possibilidade de partilhar a cama com alguém diariamente este pequeno pormenor ganha dimensões gigantescas. Muitos poderão dizer "é uma questão de hábito", mas o que é certo é que, ainda que não tenha companhia nocturna diária (um gato, pelas dimensões, não conta), as noites em que durmo acompanhada (e sim, é sempre a mesma companhia) são as minhas piores noites. Primeiro porque, que há muito não sei o que é ter dificuldades em adormecer, estou tempos doidos a aguardar a chegada do sono ( e diz ele que falar não ajuda, por isso tenho de estar caladinha, ora de olhos fechados ora de olhos abertos a olhar para a escuridão, a pensar na vida, que é tudo o que eu não gosto de fazer na cama). Segundo porque tenho uma noite pessimamente mal dormida, com despertares constantes e frenéticas mudanças de posição (sim, porque eu sempre fui daquelas que de cada vez que muda de posição desperta), quando eu sou aquela pessoa que só desfaz um cantinho da cama e é mais sossegada a dormir que um urso a hibernar.
Eu sei que o defeito é meu, mas pelo sim pelo não já o fui instruindo com regras básicas do meu sono de beleza, que deverá incluir sempre uma leitura pré-dormida e que não pode, de todo, contar com momentos lamechas de "vamos dormir bem agarradinhos" ou "dá cá a tua mão para dormirmos unidos". Comigo na cama para dormir é para dormir e por isso tem de ser cada um no seu espaço saudável de sono, ou seja, cada um no seu canto (vestir um pijama polar é o segredo para ele fugir para o cantinho dele...diz que fico demasiado quente...) e "beijinho e até amanhã". Ele já começa a perceber como é que o meu sono funciona, embora não haja uma noite a dois em que, a meio de um soninho, não desperte com um "estás a dormir?" ao qual nunca respondo verbalmente mas perante o qual o insulto em silêncio. O resto é culpa minha, das minhas rotinas e do meu sono. E esper, sinceramente, que seja mesmo uma questão de habituação, senão antevejo um futuro negro: camas separadas...alguém no sofá...ou muitas olheiras pela manhã!