Trail dos 4 Caminhos, com lição aprendida e sempre orgulhosa
Hoje foi dia de mais um trail running, desta vez na serra de Alfena e Valongo. Como tinha dito, inscrevi-me nos 22km (que na verdade, ficamos a saber já em prova que eram 23), parei nos 15km e qualquer coisa. É verdade, não terminei a prova. Por mim, que estava no limite da barreira esforço/diversão e por o meu companheiro de corrida e de vida que tem um joelho de velhote que não lhe permitiu aguentar mais.
Quando me inscrevo em qualquer tipo de prova, faço-o porque gosto do que se vai fazer (e já aqui disse que gosto bastante de trails, muito mais do que de corridas) e faço-o acima de tudo pela diversão e para me sentir bem comigo mesma, já que fazer desporto é das coisas que melhor me faz sentir. Desde que soube da existência deste trail que não me calei com "vamos aos 22, vamos aos 22, depois dos 15k do anterior não desço para os 10!". A verdade é que era exactamente isso que deveria ter feito. O trail anterior, em Lagares, era bem menos exigente e violento que este e custou-me horrores, mas mesmo assim achei-me capaz de fazer os 22km de hoje. Este trail dos 4 caminhos era basicamente uma prova de escalada brutal, com subidas duríssimas e excessivamente longas, que me puseram o coração fora da boca e as pernas a gritar daqui até ao Algarve, escaladas essas que eram seguidas de descidas assustadoras para os joelhos e afins. A chuva que a meio nos presenteou não ajudou muito, pois o piso ficou extremamente escorregadio e perigoso e confesso que tenho muito medo das lesões que se podem arranjar com estas brincadeiras.
Os primeiros 5 km para mim, seja em que prova for, são sempre os mais difíceis. É este o tempo, ou a distância, que levo a alcançar a minha confort zone, que é muito mais psicológica que física. Hoje, os primeiros 5km estouraram logo comigo tamanha era a altitude das subidas. Mas tudo bem, toca a continuar e já com a sensação de conforto e "agora é que vai ser". Abastecimento dos 10km antecedido por uma subida rochosa interminável daquelas que nos fazem pensar "eu não consigo". Pensamento ao retomar a prova "estou farta disto e ainda nem a meio vamos"! A coisa melhorou um bocadinho nos 2km seguintes (que eu pensei que tinham sido pelo menos 5!), com uma parte tranquila do percurso com muita descida pouco acentuada e trilhos "selvagens" em regatos e locais de vegetação cerrada muito agradáveis. Mas os 3 km seguintes, os 3 km seguintes meus amigos, foram a morte do artista! Era subir, subir, subir, 3km que faltavam para o abastecimento que nunca mais passavam, e quando estavamos bem perto, uma subida em que a menos de meio atingi o meu limite psicológico para aquela prova! Fisicamente estava morta, mas foi o psicológico que mais peso teve. A meio daquela subida, com a campainha dos 15km a tocar, percebi que não era para aquilo que eu tinha vindo e que quando começo a desejar com todas as minhas forças que a prova termine o mais depressa possível ou eu caio para o lado, quando deixo de ser capaz de levantar a cabeça para apreciar a paisagem (e eu adoro este tipo de natureza) e, acima de tudo, quando sei com as poucas forças que me restam, que não quero continuar aquilo assim, é este o momento em que percebo claramente que tenho de parar, quando a experiência ainda é positiva e me faz desejar voltar a um trail já na próxima semana (mês, vá!).
Chegados aos 15km, eu no meu limite psicológico e ele no limite da dor, tomamos a melhor decisão "ficamos por aqui". Sem vergonhas, sem desanimo, sem tristeza, sem qualquer sentimento negativo. Chegamos aos 15km, o que, para este tipo de prova é muito bom, para quem não tem qualquer preparação específica ou sequer de corrida! Se eu podia ter continuado? Podia. E terminava a prova. Provavelmente com mais de 4h30 de prova, exausta e pior que tudo, com a sensação de ter ido ali para sofrer e não para me divertir. E muito provavelmente, iria fugir dos trails. E se há coisas para que isto serviu, foi para nos mostrar que não somos atletas, que não somos super-heróis e que se é para arriscar que seja numa coisa menos violenta. Desistir foi um acto de humildade e maturidade: paramos no limite e não é vergonha nenhuma ter um limite nos 15km de um segundo trail running. E assim como assim, ainda ganhamos uma viagem no jipe dos bombeiros até à meta!
Uma coisa é certa: em Julho estaremos de volta aos trails, mas com um objectivo já definido: mais de 15km não. Talvez para o ano nos vejam levantar poeira em distâncias superiores...