Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

As coisas mais belas do mundo

Nesse tempo, o meu avô perguntou-me quais seriam as coisas mais belas do mundo. Eu não soube o que dizer. Pensei que poderiam ser o fim do sol, o mar, a rebentação no inverno, a muita chuva, o comportamento dos cristais, a cara das mulheres, o circo, os cães e os lobos, as casas com chaminés. Ele sorriu e quis saber se não haviam de ser a amizade, o amor, a honestidade e a generosidade, o ser-se fiel, educado, o ter-se respeito por cada pessoa. Ponderou se o mais belo do mundo não seria fazer-se o que se sabe e pode para que a vida de todos seja melhor.

Valter Hugo Mãe, "Contos de cães e maus lobos"

Os meus queridos livros

livros.jpg

Pensei: os meus queridos livros. Era o que eu pensava e sentia: os meus queridos livros. Olhava-oes como se estivessem vivos e pudessem sofrer. Como se pudessem também entristecer.

Gostei de colocar a hipótese de os livros serem como bichos. Isso faz deles o que sempre suspeitei: os livros são objectos cardíacos. Pulsam, mudam, têm intenções, prestam atenção. Lidos profundamente, eles estão increvelmente vivos. Escolhem leitores e entregam mais a uns que a outros. Têm uma preferência. São inteligentes e reconhecem a inteligência.

Os livros estão esbugalhados a olhar para nós. Quando os seguramos, páginas abertas, eles também estão esbugalhados a olhar para nós.

Valter Hugo Mãe, "Contos de cães e maus lobos"

A felicidade

   «Um dia, eu e essa pessoa desconhecida vamo-nos encontrar por algum motivo e uma intuição talvez nos diga que chegámos à vida um do outro. Eu nem sempre acredito nisso. Mas não posso deixar de estar atenta. Aliás, sou mesmo assim, fico atenta a toda a gente. Gosto de olhar discretamente. Confesso. 

   Imagino a vida dos outros. Não é por cobiça. É por vontade que dê certo. Por exemplo, vejo alguém sem cabelo e invento que há gente que só gosta de homens carecas e então ser careca passa a ser uma vantagem ou, pelo menos, desvantagem nenhuma.

   Acho que invento a felicidade para compor todas as coisas e não haver preocupações desnecessárias. E inventar algo bom é melhor do que aceitarmos como definitiva uma qualquer realidade má. A felicidade também é estarmos preocupados só com aquilo que é importante. O importante é desenvolvermos coisas boas, das de pensar, sentir ou fazer.»

Valter Hugo Mãe, "O paraíso são os outros"

 

 

Acredita sempre

   «Os filhos, conseguidos de uma forma ou de outra, são invariavelmente valiosos. Mães e pais, juntos ou separados, são sempre mães e pais e não perdem o amor. 

   Apenas as doenças fazem mães e pais perder o amor. Cientistas de todo o mundo procuram urgentemente uma cura. Mas não parece nada fácil. Creio que só uma esperança qualquer pode curar. 

   A esperança parece inventada pela espera. Eu não sei esperar. Todos os dias me assusto por não ter esperança. Quero muito ter. A minha mãe manda fazer um esforço. Ela diz: acredita sempre. Eu acredito, só não estou certa de saber ficar à espera. Quando for maior vou seguramente melhorar neste desafio."

Valeter Hugo Mãe, "O paraíso são os outros"

Vontade de grudar

joseph-gordon-levitt-and-zooey-deschanel-in-500-da

   «Os casais são criados por causa do amor. Eu estou sempre à espera de entender o que é. Sei que é algo como gostar tanto que dá vontade de grudar. Ficar agarrado, não fazer nada longe. Os casais são isso: gente muito perto. Quero dizer: acompanhado, porque mesmo em viagem não deixam de acompanhar, pensam o dia inteiro um no outro.

   Às vezes, falamos com alguém que pertence a um casal e essa pessoa nem ouve porque está a pensar em quem ama. Chega a ser bizarro. Quase mal-educado.»

Valter Hugo Mãe, "O paraíso são os outros"

O amor constrói

 

carrie-and-big-living-room-2.jpg

 

 «Reparo desde pequena que os adultos vivem muito em casais. Mesmo que não sejam óbvios, porque algumas pessoas têm par mas andam avulsas como as solteiras, há casais de mulher com homem, de homem com homem e outros de mulher com mulher. Depois, há casais de pássaros, coelhos, elefantes, besouros. Os pinguins sãoabsurdamente fiéis, quero dizer: há também casais de pinguins, e até de golfinhos. Tudo por causa do amor.

   O amor constrói. Gostarmos de alguém, mesmo quando estamos parados durante o tempo de dormir, é como fazer prédios ou cozinhar para mesas de mil lugares. 

   Mas amar é um trabalho bom. A minha mãe diz.»

Valter Hugo Mãe, "O Paraíso São os Outros" 

«O paraíso são os outros», Valter Hugo Mãe

image.jpg

«Estou cada vez mais certa de que o paraíso são os outros. Vi num livro para adultos. Li só isso: o paraíso são os outros. A nossa felicidade depende de alguém. Eu compreendo bem. 

Mães, pais, filhos, outra família e amigos, todas as pessoas são a felicidade de alguém, porque a solidão é uma perda de sentido que faz pouca coisa valer a pena.

Na solidão só vale a pena tentar encontrar alguém. O resto é tristeza. A tristeza a gente respeita e deita fora. A tristeza a gente respeita e, na primeira oportunidade, deita fora. É como algo descartável. Precisamos de usar mas não é bom ficar guardada.»

______________________________________________________

   Podia ser um livro para crianças. E é. Um livro de criança com mensagem para gente crescida. Um livro que está cheio de vida e amor. Um livrinho surpreendente, claramente para mantermos na cabeceira. E se me permitem, Valter Hugo Mãe no seu melhor. 

   Podia ser apenas um livro para crianças. Mas é um livro para a vida.

(N)A cabeça

« (...) a cabeça é muito frágil e, embora não dê para abrir e ver, ela tem coisas dentro, que são coisas que se dizem ou que se veem, e nós devemos ter cuidado com o que nunca mais possamos tirar lá.»
Valter Hugo Mãe, "O nosso reino"

 

«O nosso reino», Valter Hugo Mãe

História de uma criança de 8 anos, contada na primeira pessoa, que vê o mundo e todas as coisas como manifestações da voz de Deus. É a aventura da candura e da ingenuidade através dos complexos meandros da fé e dos comportamentos humanos. Criado no seio de uma família extensa, o narrador vai assistindo ao esvaziar da sua casa e à dificuldade de explicar esse fenómeno à luz dos supostos desígnios divinos. Entre o profundamente terno e a delicadeza da infância surge uma necessidade de sobrevivência, um engenho maior do instinto humano que é sempre, neste livro, pautado pela necessidade de amar o próximo.
___________________________________________________________
   O único livro de Valter Hugo Mãe que me faltava ler e o primeiro, do género, que lançou. Não é dos meus favoritos deste escritor mas sendo VHM é sempre uma leitura bastante agradável.
   A parte má? Agora não há mais nada de VHM para se ler!

«O Apocalipse dos Trabalhadores», Valter Hugo Mãe

 

A história de maria da graça e de quitéria, duas mulheres-a-dias e carpideiras profissionais que, a braços com desilusões e desconfianças várias acerca dos homens, acabam por cair de amores e, com isso, mudar radicalmente o que pensam e esperam da vida. Um romance sobre a força do amor e como ela se impõe como uma espécie de inteligência para salvar as personagens das suas condições de desfavor social e laboral. Passado na recôndita Bragança, este livro é um elogio à força dos que sobrevivem, dos que trabalham no limiar da dignidade e, ainda assim, descobrem caminhos menos óbvios para a felicidade.