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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Ver por dentro, como Blimunda

“Quando me dás a mão, quando te encostas a mim, quando me apertas, não preciso ver-te por dentro.” 

 

   Blimunda é uma das personagens dos livros de Saramago que mais me fascina. Gosto daquele seu lado místico e mágico, que a torna capaz de recolher vontades mas, sobretudo, que lhe dá aquele dom magnífico de "ver por dentro das pessoas e das coisas". Quantos de nós, comuns mortais, não gostariam, também, de ver por dentro? E para nós, psicólogos, quão bom seria sermos capazes de ver por dentro das pessoas? 

   Enquanto psicóloga, a minha função é um bocadinho essa: chegar "ao dentro" das pessoas, que é, talvez, das coisas mais difíceis de se fazer. O caminho para lá chegarmos é múltiplo, mas sempre árduo. Dependemos muito do que o outro nos diz, e "o dentro" das pessoas chega-nos através das palavras que partilham connosco. Umas vezes chega-nos claro e directo, outras vezes é subentendido. Mas este "dentro" pode não ser o "dentro" verdadeiro e este é talvez o maior handicap da profissão de psicólogo: corremos o risco permanente da mentira. O outro diz o que quer, verdades e mentiras, e é precido um cuidado muito grande na análise que fazemos daquilo que ouvimos. 

   Ora se pudessemos ter um bocadinho de Blimunda dentro de nós, este risco ficava bem reduzido. É certo que ficavamos todos um tanto transparentes e que muitos de nós não iamos gostar que nos vissem por dentro ou sequer de ver por dentro das outras pessoas, mas o que é certo é que esta "magia da Blimunda" nunca me saiu da cabeça, precisamente porque esta era o tipo de competência que nos deveriam ensinar na faculdade ou para a qual deveria existir formações. Se eu pudesse ver por dentro, em vez de deduzir o que vai lá dentro, seria capaz de ajudar muitas mais pessoas...Faça-se magia, então!