Violência em tempos de cólera
Em pleno século XXI, quando tudo é inovação e modernidade, a violência é gratuita, indiscriminada, mais irracional que nunca e pública. E isto só pode ser assustador. Ver ou sabermos de um ser humano a agredir outro ser humano tornou-se notícia diária, ao ponto de a surpresa e o choque começarem a ser substituídos por um "mais um caso?". Qualquer motivo parece suficientemente forte para se agredir alguém, como se a violência alguma vez tivesse ou merecesse justificação e as situações em que essa violência termina em morte são cada vez mais e mais estúpidas. Mais do que nunca, a violência entre semelhantes é a notícia do dia, todos os dias, no mais variados contextos. E eu não sei se é do tempo, que parece ter costas largas para tudo, se é a crise, outra que tem de ter as costas muito largas, se é qualquer coisa que anda no ar, se é o stress, a pressão, a tensão, as amarguras da vida... não sei sequer se é alguma coisa que se consiga explicar, porque compreender torna-se muito, muito difícil. O certo é que, o que quer que seja, é grave, muito grave. É a manifestação do pior que o ser humano tem em si; é um retorno aos primórdios da história, um regresso ao tempo em que éramos pouco mais do que animais que andam em duas patas em vez de quatro. E é assustador, tão assustador, pensar onde é que este mundo e esta raça, que se diz superior e racional, vai parar, arrastando-nos com ela para locais demasiado negros, nós que ainda pertencemos àquele grupo de seres humanos que se preocupam com os outros e valorizam a vida e o viver.